Técnico aposentado faz do bom humor aliado para enfrentar câncer de próstata

27/11/2013 14:10

Antônio é técnico de Enfermagem, aposentado do Hospital Universitário da UFSC. (Foto: Mayra Cajueiro Warren / AI / GR)

Antônio Vicente da Silva, 70, aposentou-se há 10 anos do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina e soube, neste ano, que tinha câncer de próstata. Fez uma cirurgia de retirada da glândula e hoje faz acompanhamento médico. Antônio divide seu tempo com a família e o trabalho voluntário em dois grupos de idosos. Otimista e realista, acredita que os 40 anos nos quais trabalhou no serviço público de saúde o ajudaram a estar sempre preparado para o que der e vier.

Antônio gosta que as coisas sejam chamadas pelo que são, pelo seu nome. Não tolera apelidos tidos como carinhosos, principalmente aqueles conferidos a idosos. “As pessoas dizem ‘oi, vozinho’, ‘oi, tio’. Eu falo, ‘não sou seu avô, nem seu tio, não sou irmão da sua mãe’. Essas palavras – ‘Velhinho’, ‘Seu Coisinha’ – eu não aceito. Não, meu nome é Antônio. Não dá para anular a identidade da pessoa só porque ele ficou velho”, defende o senhor alto e esbelto, de pele morena e sorriso largo. Com a mesma franqueza que explica sua aversão a eufemismos quanto à idade, Antônio fala do câncer e das dificuldades que enfrenta. “Não nego para ninguém. Não adianta mentir para os outros, estarei mentindo para mim mesmo”, explica.

Ele se define como uma pessoa de trato fácil, mas com alguns defeitos, com certo “pavio curto” às vezes, porém muito alegre. Dedica a maior parte de seu tempo ao Grupo de Idosos do Pantanal (GIPAN) e ao grupo Novo Amanhecer, também no bairro Pantanal. Além disso, é vice-presidente da Velha Guarda da Embaixada Copa Lord, escola de samba de Florianópolis. Desde que se aposentou, voltou a estudar, fez o curso de monitores do Núcleo de Estudos da Terceira Idade (NETI) da UFSC e formou-se em Teologia Sistemática no Instituto Teológico de Santa Catarina (ITESC). “Eu ainda penso em estudar psicologia, é uma curiosidade que eu tenho. E ainda neste ano eu vou me presentear com um notebook”, anima-se.

Diagnóstico e cirurgia

Quando fala do câncer, Antônio fica sério. “Há uns 20 anos, eu tive um problema na zona erógena, que melhorou com o tratamento, não precisei operar. Mas este de agora foi mais agressivo. O problema é que eu fiquei 12 anos com um médico acompanhando pelo exame de sangue PSA, e ele sempre dizia que o resultado era compatível com a idade”, relata Antônio. O exame de sangue que verifica a dosagem do PSA (antígeno prostático específico) é feito para diagnosticar alterações na próstata. Geralmente é solicitado como complemento do exame de toque retal. No caso de Antônio, mesmo com os índices nos exames gradativamente subindo, o especialista o assegurava que o resultado era normal. “Ele acompanhava o meu PSA, mas nunca fez o toque retal. Nunca exigiu, nunca pediu. E não era eu quem ia pedir, né? Ele dizia que estava tudo bem, então eu acreditava que estava mesmo bem”, conta.

Antônio continuou sem sintomas, mas acabou procurando o serviço de urologia do HU para uma orientação sobre como ele poderia melhorar sua vida sexual. “Eu não tenho vergonha de falar. Tenho 70 anos e percebi que a libido vinha baixando. A conversa virou uma consulta e dali foi para o diagnóstico”, explica.

O médico que o atendeu no HU, segundo Antônio, ficou surpreso com a notícia de que ele nunca tinha se submetido ao toque retal. “Ele fez o exame e ali percebeu alguma coisa, perguntou se os alunos poderiam também fazer e eu falei que não tinha problema. Naquele momento eu virei um material didático, né? Claro, é dali que saem os profissionais. Depois de tudo ele me perguntou se eu queria fazer uma biópsia transretal. Eu disse que sim. Marquei e fiz, com anestesia”, descreve.

Após 15 dias, o resultado da biópsia veio positivo para câncer. Antônio não olhou o exame antes da consulta, deixou que o seu urologista abrisse o envelope. Constatada a malignidade do tumor, o médico e Antônio decidiram repetir a biópsia. Deu positivo novamente e optaram pela cirurgia de prostatectomia radical, pela retirada de toda a glândula. “Pensei assim, se eu já estou com esse problema, esperar mais dois, três anos só vai piorar. Ele marcou a cirurgia, e, no dia 26 de março de 2013, fiz. Confesso que não é um bicho de sete cabeças, mas também não é fácil. Tem que ter muita paciência, muita resignação e até uma certa coragem, sabe? Não é em si a cirurgia, é o pós-operatório que é chato, desconfortável”, relata.

Apesar de ter tomado as decisões sobre o tratamento sozinho, o apoio dos filhos e da esposa, Neusa, com quem Antônio é casado há 48 anos foi fundamental. “Tive muita ajuda da minha esposa, meus filhos, netos, amigos… Uma força muito grande. Eu não quis que fossem comigo no médico, eu decidi e me internei. Eles ficaram comigo, mas eu quis caminhar com minhas pernas. É claro que, se um dia esse câncer voltar, tiver uma recidiva, eu vou contar com a ajuda da minha família. Mas enquanto eu puder resolver as coisas sozinho, eu vou”, ressalta.

Acompanhamento e recuperação

Oito meses depois da cirurgia, Antônio ainda enfrenta algumas dificuldades com a libido e disposição sexual. A cada dois meses, faz o acompanhamento da dosagem de PSA no sangue, com bons resultados. “Tomo remédio para aumentar a libido. É lento, mas eu não me preocupo com isso. Eu não quero quantidade, eu quero qualidade de vida. O que adianta que eu chegue aos 80 anos sofrendo por aí? Então, que eu chegue aos 75, com qualidade de vida. Tem que enfrentar, eu sou muito valente, muito guerreiro e eu enfrento mesmo e não tenho vergonha de falar sobre o diagnóstico. Mas que dá um certo medo, dá”, confessa.

Conversar com outras pessoas que passam pela mesma experiência é comum para Antônio, e é ele quem costuma incentivar os amigos a procurar ajuda. “A gente, na verdade, se sente mutilado. Tira um órgão da pessoa. Tira a vaidade do homem, embora isso não seja tudo para mim, porque eu tenho como suprir isso, me integrar à sociedade, conversar com outras pessoas com o mesmo problema. Pergunto para todos se já fizeram os exames, já foram no urologista. Isso aconteceu comigo, eu sendo da área da saúde! Homem é muito preconceituoso ainda, tem medo, tem vergonha”, pondera.

Antônio segue à risca o que recomenda o seu médico. Seu histórico de saúde tem outras complicações além do câncer da próstata. Ele tem cardiopatia grave, em tratamento há 15 anos. “Eu sou a pessoa que se o médico falar que tem que fazer exame, eu faço. Marcou a consulta, eu vou. Se disser ‘olha, você não pode mais comer arroz’, eu não como. Eu cumpro aquilo porque acho que estou seguindo algo de bom pra mim, pra minha qualidade de vida”, diz.

“Deixa a vergonha de lado e vai viver!”

Antônio afirma que não se deixa abater pelo câncer. “Eu mantenho dois grupos de idosos, viajo, danço, canto, gosto de passear. Estou indo agora para Maceió com 40 pessoas. Eu tenho que viver a vida. Mesmo com esse problema, eu não deixo esse câncer tomar conta de mim. Se é que ele existe ainda, ele viaja comigo, dança comigo, vai pro Carnaval comigo. Mas nem todo mundo tem uma cabeça assim. Eu não fiquei na cama esperando a morte chegar, de maneira nenhuma”, afirma.

“Se tem ou não tem algum problema, procure, faça o exame, marque a consulta. É importante fazer o toque. A incidência do câncer está grande e a causa é essa. A pessoa tem que procurar, ter coragem. Não vai ser mais ou menos homem se fizer o exame. E não dói nada, absolutamente nada. Deixa a vergonha de lado e vai viver”, aconselha Antônio.

Notícias relacionadas
UFSC adere ao Novembro Azul pela prevenção ao câncer de próstata
Tumores da próstata têm evolução lenta e sem sintomas
Diagnóstico precoce reduz efeitos colaterais do tratamento do câncer de próstata

Mais informações
Campanha do Novembro Azul no site da SBU
Página do INCA sobre o câncer da próstata
Diretrizes do INCA sobre o rastreamento do câncer da próstata

 

Mayra Cajueiro Warren
Assessoria de Imprensa do Gabinete da Reitoria
mayra.cajueiro@ufsc.br / imprensa.gr@contato.ufsc.br
(48) 3721-4081