Diagnóstico precoce reduz efeitos colaterais do tratamento do câncer de próstata

25/11/2013 13:00

O diagnóstico de câncer de próstata vem acompanhado da decisão pessoal do paciente, junto com seu urologista, sobre o tratamento da doença, que pode ser por meio de cirurgia, radioterapia, tratamento com hormônios ou apenas o acompanhamento médico. Efeitos colaterais dos tratamentos como a impotência sexual e a incontinência urinária são mais prevalentes quando o tumor é encontrado em estágio avançado, quando as chances de cura também são menores. Por isso, especialistas recomendam investir no diagnóstico precoce, apesar de haver discordância de algumas organizações com relação à efetividade de realizar exames em pessoas saudáveis.

A fase inicial do câncer de próstata não tem sintomas. O urologista do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina, Cristiano Novotny, alerta que quando os sintomas começam a aparecer pode ser tarde demais. “A partir do momento que o homem tem alguma alteração decorrente do câncer da próstata, pode ser tarde para um tratamento com fins de curar. Pode-se fazer um tratamento paliativo, mas isso vai acabar abreviando a vida do paciente”, explica Novotny.

Quando os sintomas do câncer começam a aparecer em fases tardias, podem ser confundidos com os da Hiperplasia Prostática Benigna (HPB), que é um aumento da próstata. “Como a próstata envolve a uretra, esses sintomas podem ser obstrutivos, dificuldades para urinar, esvaziar a bexiga. Mas, também pode causar insuficiência renal, dor local, dor óssea. É comum que as metástases ocorram na coluna, com dor lombar, fraturas patológicas, com o paciente podendo até ficar paraplégico, tetraplégico por decorrência do câncer da próstata. Também pode haver metástase visceral, para o pulmão, fígado. Em caso mais avançados pode ter metástase no cérebro, na pele, no pênis”, detalha Novotny.

Tratamentos e riscos

O especialista destaca que todos os tratamentos disponíveis têm efeitos colaterais, por isso o momento de tratar o câncer é importante. Os efeitos devem ser levados em consideração, uma vez que, em tumores indolentes (de crescimento lento), a doença é menos agressiva que o tratamento. “A cirurgia causa disfunção erétil em cerca de 50% dos pacientes. Essa impotência sexual é mais intensa quanto mais idoso for o homem e quanto maior for a disfunção antes da operação. Quem já não tinha boas ereções, tende a piorar ainda mais. Aqueles que tinham vida sexual normal, com boas ereções, tendem a manter essa função no pós-operatório”, pontua o urologista.

Outro risco da prostatectomia, que é a cirurgia para tratamento do câncer de próstata, é a incontinência urinária, que ocorre em 5 a 10% dos casos. Novotny ressalta que o distúrbio acontece de acordo com características físicas. “Obesidade, anatomia da pelve, tamanho da próstata, a condição cirúrgica e o nível de agressividade do tumor influenciam os efeitos colaterais. Aqueles tumores mais agressivos precisam de mais agressividade cirúrgica”, enfatiza.

Há também o uso da radioterapia como tratamento de forma isolada ou associada à hormonioterapia. Novotny alerta que os efeitos colaterais são os mesmos daqueles apresentados com a cirurgia e podem se alongar por mais tempo, ou demorar um pouco mais para aparecer. É necessário reduzir a produção do hormônio sexual masculino, a testosterona, que estimula o crescimento do câncer. Isso se faz com o uso de medicamentos (castração química) ou com a retirada dos testículos (castração cirúrgica).

“Além dos efeitos psicológicos da castração, há todos os efeitos da falta de testosterona: o homem perde o vigor físico, diminui massa muscular e a mineralização dos ossos, pode desenvolver osteoporose, perde o desejo sexual, pelos. Também tem efeito negativo no raciocínio e capacidade de concentração e o tratamento hormonal aumenta o risco de doenças cardiovasculares”, enumera Novotny.

Controvérsia

A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) aumentará, neste ano, a idade inicial de rastreamento do câncer da próstata, de 40 para 45 anos, em casos de alto risco, e a partir dos 50 anos, para os de baixo risco. Eduardo Deves, urologista do HU, explica que o debate começou com estudos epidemiológicos que levantaram que o rastreamento com toque retal e exame de sangue PSA não melhorava a qualidade de vida e a chance de sobrevivência. Deves acredita que abolir o rastreamento não seja a melhor saída. “Sabemos que o PSA demanda milhões de dólares, é caro para a saúde pública. No entanto, não dá para ser tão radical, porque assim você acaba onerando o paciente que teria sido beneficiado pelo tratamento”, complementa.

Novotny acrescenta que, antes dos rastreamentos por exame de sangue PSA, a maioria dos diagnósticos eram feitos com a doença já em metástase, sem condições de cura. “Hoje aumentamos muito o diagnóstico. Isso pode ser um problema para aqueles tumores de muito baixo risco, que talvez não precisem ser tratados, mas passamos a curar muitos pacientes com doenças mais agressivas. O screening (rastreamento) diminuiu muito a mortalidade por câncer de próstata”, defende.

Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) apontam que a taxa de incidência do câncer de próstata é seis vezes maior nos países desenvolvidos em comparação aos países em desenvolvimento. Isso, segundo Deves, se dá porque ocorrem mais diagnósticos nos países desenvolvidos, principalmente de cânceres menos invasivos, como o tumor de próstata indolente, que possivelmente não causará danos à pessoa em pelo menos 10 ou 15 anos.

Deves conta que, nos anos 90, nos Estados Unidos, houve um certo boom do câncer da próstata, com muitos diagnósticos e tratamentos de tumores indolentes. “Isso gerou uma ansiedade muito grande e se optou pelo tratamento desses pacientes, que depois se sentiram deprimidos, chateados, por conta dos efeitos das cirurgias, que é a impotência sexual e incontinência urinária. Desde então, verifica-se uma diminuição no número de cirurgias do câncer de próstata. Criou-se uma classe de homens deprimidos, porque foi tratado um tumor que não era grave, em uma idade sexualmente ativa, que acabou com a sexualidade do paciente, a possibilidade de ter novos filhos e alguns até se tornaram incontinentes. Então o tratamento foi menos benéfico do que se a doença tivesse evoluído”, detalha o urologista.

Atualmente, a abordagem varia de acordo com cada urologista. “Tudo tem que ser conversado com o paciente, sua família, de forma bem explicada”, conclui Deves.

Urologia no HU

Muitas das pessoas atendidas no ambulatório de urologia do HU não são referenciadas por suspeita de câncer. São necessidades que, segundo Novotny, poderiam ser acompanhados no posto de saúde do bairro. “Aqui, temos condições de tratar todos os tipos de cânceres urológicos, não só os de próstata, mas de rim, bexiga, testículo, ureter, uretra, etc. Temos toda a estrutura necessária para isso”, esclarece. Ele acrescenta que, quando o paciente urológico chega ao HU, ele geralmente não é encaminhado para outro hospital. “Temos boa resolutividade. Os casos que chegam resolvemos aqui. Estou há 4 anos e não houve um só caso que ficou para trás. De forma geral, a nossa fila do câncer de próstata é pequena. No máximo em um mês, o caso tende a ser resolvido, é a nossa prioridade cirúrgica”, complementa o médico.

Novotny espera que o Novembro Azul contribua para reduzir mortes. “A maior parte dos agravos de saúde tem cura, desde que diagnosticados em uma fase mais precoce. Não é que as consultas com o urologista vão prevenir que apareça um câncer da próstata, mas o diagnóstico mais precoce vai prevenir que o paciente vá a óbito em decorrência do câncer, ou que tenha complicações”, ressalta.

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Mayra Cajueiro Warren
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