UFSC encaminha documento ao MEC sobre demanda de intérpretes de Libras

20/09/2013 17:33

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) busca soluções há cerca de dois anos junto ao Ministério da Educação (MEC) para efetuar a contratação de mais intérpretes de nível superior da língua brasileira de sinais (Libras), necessários para atender às demandas da instituição. A inclusão emergencial de pelo menos nove tradutores intérpretes foi solicitada pela UFSC com base em um estudo encaminhado ao MEC e também foi reivindicada pelos estudantes surdos da Universidade em uma manifestação na sexta-feira, dia 13.

Os serviços dos sete profissionais especializados já contratados pela UFSC são utilizados no ensino de graduação e pós-graduação, em seminários e congressos, aulas do curso de Letras Libras, defesas de mestrado e doutorado, entre outras ações. No entanto, para atender às necessidades institucionais, é necessário ampliar o quadro. Além de encaminhar o estudo ao MEC, a Universidade vem buscando soluções legais a curto prazo, inclusive por meio de contratações temporárias para os campi de Florianópolis e Araranguá.

Segundo informações da Pró-Reitoria de Administração e da Coordenadoria de Acessibilidade Educacional, unidade vinculada à Pró-Reitoria de Graduação, serão contratados dois intérpretes terceirizados para a UFSC (dois postos de trabalho de 20 horas semanais cada) ainda neste semestre. Outros quatro tradutores terceirizados já foram contratados e estão trabalhando no campus de Araranguá.

Pioneirismo

A UFSC é referência nacional em tradução e interpretação de Libras/Português, no ensino de graduação, pós-graduação e pesquisa, com a presença, inclusive, de intérpretes em reuniões de colegiado, solenidades e aulas. A UFSC também é pioneira na área – conta com o primeiro departamento de Libras do país, hoje com 22 professores. Atualmente a Universidade dispõe de sete servidores técnico-administrativos em Educação no cargo de tradutor/intérprete nível E, ou seja, com curso superior, que atendem em regime de escala e revezamento.

Daniela Bieleski é intérprete da Universidade, contratada para uma vaga de nível superior no concurso realizado pela UFSC em 2011, o qual teve cinco nomeações. Ela explica que a equipe atende pelo menos 22 professores, 131 alunos de graduação e 20 de pós-graduação, além de uma aluna do Colégio de Aplicação. Bieleski aponta, ainda, os acompanhamentos em visitas médicas, chamadas telefônicas e reuniões diversas. “Temos uma escala de trabalho. A equipe vai se dividindo, se deslocando”, informa.

“Traduzir uma aula para Libras demanda muito esforço físico. Por isso, os intérpretes trabalham em dupla. É importante para a saúde do profissional e é uma estratégia da UFSC. Além disso, para fazer um trabalho de qualidade, ele precisa de tempo para se preparar”, argumenta Isaack Saymon. Saymon é surdo, tem 23 anos e é estudante de mestrado em Estudos da Tradução. Natural de Mossoró, no Rio Grande do Norte, ele tem duas graduações, em Letras Libras e em Serviço Social, e buscou o mestrado em Santa Catarina pela qualidade da formação na UFSC.

Saymon começou o mestrado neste semestre e hoje está matriculado em quatro disciplinas. Em três delas, ele tem acesso a um intérprete ou professor fluente em língua de sinais. No entanto, em uma das disciplinas, que fornece toda a base para o curso, não é possível contar com um intérprete. O aluno preocupa-se por não poder acompanhar as aulas e entende que pode perder os créditos e o aprendizado devido à falta do profissional que traduza as aulas para ele. Saymon complementa que os programas de pós-graduação são os que mais precisam da contratação de intérpretes, uma vez que as aulas de graduação em Letras Libras já contam com professores fluentes nos dois idiomas (Libras e português).

Iniciativas da Administração Central

As Pró-Reitorias de Graduação, Pós-Graduação e Administração vêm buscando a contratação de novos intérpretes de Libras. O estudo enviado ao MEC foi elaborado por uma comissão de professores, alunos e técnicos da área e argumenta sobre a necessidade de contratar profissionais de nível superior, hoje não contemplada no Plano de Carreira dos Servidores Técnico-Administrativos em Educação das Instituições Federais de Ensino Superior (PCCTAE), que prevê a carreira de intérprete apenas com nível médio.

O material demonstra que os intérpretes de Libras equivalem-se, tanto em suas funções como em suas atribuições, àqueles de outros idiomas. O propósito do estudo é não apenas solicitar o atendimento da demanda da UFSC, mas fornecer bases para tomadas de decisão que atendam às necessidades de outras instituições em todo o país.

Joana Maria Pedro, pró-reitora de Pós-Graduação, reforça que a Administração Central está atenta e buscando soluções para contemplar o que é solicitado pelos alunos. “Estamos tentando todas as alternativas e, em última análise, há a probabilidade de flexibilização do tempo de titulação desses estudantes surdos, frente às dificuldades que eles encontram”, pondera. Além de buscar maior prazo para a conclusão dos trabalhos finais, existe a possibilidade de transferência da data e horário de disciplinas para que sejam oferecidas com a presença de um intérprete. No entanto, a pró-reitora explica que há dificuldades, como a disponibilização do espaço físico e conflitos com compromissos de professores e dos outros alunos matriculados na disciplina, que têm de ser igualmente equacionados.

Após a manifestação do último dia 13, a Administração Central se prontificou a estudar uma solução legal, a curto prazo, junto à Procuradoria Federal enquanto o MEC não dá uma resposta definitiva ao pleito da instituição. Uma reunião entre os estudantes e as reitoras foi agendada para a próxima semana. “Organizamos um movimento para chamar a atenção das pessoas, porque nós precisamos do direito à acessibilidade respeitado. O nosso direito ao intérprete é o direito de acesso ao conhecimento. A sociedade precisa entender que Libras é a nossa língua e que, sem a tradução qualificada, não é possível interpretar textos ou apresentações, uma vez que ficamos sem a explicação dada pelo professor oralmente em sala de aula”, pede Saymon.

Mayra Cajueiro Warren
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