Tumores da próstata têm evolução lenta e sem sintomas

20/11/2013 14:03

O câncer da próstata, principal alvo da campanha do Novembro Azul, celebrado internacionalmente como o Movember, é uma doença silenciosa, que só pode ser diagnosticada por meio de exames específicos. Se encontrado nas fases iniciais, tem boas chances de ser tratado.

Eduardo Deves, médico do Hospital Universitário e assistente da disciplina de Urologia no curso de Medicina da Universidade Federal de Santa Catarina, considera a campanha um estímulo inicial para que homens tornem a visita ao urologista, especialista do trato urinário e do sistema reprodutor masculino, uma rotina. “O Novembro Azul é importante, porque o câncer da próstata não tem nenhum tipo de prevenção. O que existe é o diagnóstico precoce. No Brasil, se diagnosticam geralmente tumores avançados, que causam mortes. Quando é avançado, não tem como curar, só bloquear o crescimento do tumor. E é mais oneroso tanto para o paciente como para o Sistema Único de Saúde (SUS)”, aponta o especialista.

A próstata é uma glândula localizada abaixo da bexiga e acima do reto. Ela ajuda na produção do sêmen, que carrega os espermatozoides durante a ejaculação. Alterações da próstata são constatadas pelo exame do toque retal e pelo exame de sangue PSA (antígeno prostático específico).

Informações divulgadas pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) apontam que o número de homens que procuram o médico para acompanhamento da próstata ainda é pequeno: 44% nunca foram ao urologista. Buscar o especialista e realizar os exames preventivos é importante principalmente devido ao lento desenvolvimento da doença.

“O câncer de próstata, diferentemente de outros cânceres, tem uma evolução mais arrastada. Ele não é tão letal nas fases iniciais e, nessas etapas, quando ele é passível de cura, não há sintomas. Ele é o primeiro tipo de câncer em incidência entre os homens, mas o segundo em causa de morte. Isso quer dizer que temos bons métodos de tratamento. Geralmente, entre o diagnóstico e a morte pelo câncer, pode ocorrer um período médio de 10 a 15 anos, dependendo do subtipo do câncer”, explica Cristiano Novotny, urologista do HU que também atua no curso de Medicina da UFSC.

Novotny ressalta que o hábito de cuidar da saúde é importante, independentemente da prevenção ao câncer. “As principais causas de mortalidade entre brasileiros e catarinenses se devem às doenças cardiovasculares. É essencial começar os cuidados com a avaliação de riscos cardíacos”, enfatiza. O médico recomenda que homens façam visitas anuais ao cardiologista e passem a frequentar o consultório do urologista a partir dos 40, 50 anos, dependendo do grupo de risco em que se encontram para o desenvolvimento de doenças da próstata.

Alterações

São três as doenças da próstata detectadas pelo exame do toque retal e pelo PSA: a Hiperplasia Prostática Benigna (HPB), que é um aumento da próstata; a prostatite, que é a inflamação da próstata; e o câncer de próstata. Todos esses distúrbios causam aumento do PSA. “Esse exame é só parte da avaliação médica. Ele deve ser complementado pelo toque. Se o resultado for de PSA aumentado e houver uma alteração suspeita ao toque, há a suspeita de câncer. Se tem PSA aumentado e sintomas de infecção urinária, caracteriza-se uma prostatite. Se tem o PSA aumentado com sintomas obstrutivos, uma dificuldade miccional, um desenvolvimento benigno da próstata, a gente vai pensar em HPB”, detalha Novotny.

Grupos de Risco

Apesar de não haver métodos de prevenção e de não apresentar sintomas nas fases iniciais, o câncer de próstata tende a ser recorrente em homens com idade entre 60 e 70 anos, de ascendência negra e com histórico familiar da doença. Novotny alerta que a possibilidade de desenvolver o câncer é tão maior quanto o número de parentes acometidos e que, quanto maior a idade, maior o risco.

Tipos de câncer

Novotny destaca que a natureza do tumor – se ele é indolente ou se é agressivo – é determinante quando da decisão do médico e paciente sobre o tratamento. “Temos que entender o câncer de próstata como uma doença com diversas manifestações possíveis. Pode ter o câncer que não precisa tratar, no caso de um tumor minimamente invasivo, classificado por meio de critérios de diagnóstico, e tumores altamente agressivos. Com o toque retal, a dosagem do PSA e a avaliação da biópsia, conseguimos predizer o nível de agressividade do tumor”, esclarece o urologista.

Rastreamento e preconceito

O acompanhamento da próstata ano a ano é recomendado pelos urologistas para detectar alterações. No entanto, há um debate internacional a respeito da frequência com a qual se deve efetuar exames da próstata e se a realização desses exames em pacientes de baixo risco é necessária. Informações do Instituto Nacional do Câncer (INCA) demonstram que a maioria dos tumores de próstata desenvolve-se muito lentamente e pode não apresentar sinais durante a vida e nem ameaçar a saúde do homem.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) diferencia a detecção precoce do câncer (pessoas com sinais iniciais da doença) e o rastreamento (pessoas aparentemente saudáveis). O INCA não recomenda o rastreamento para o câncer da próstata, uma vez que não há evidências científicas de que ele identifique homens que precisem de tratamento ou de que a prática reduza a mortalidade pela doença.

No Brasil, a SBU recomenda exames para quem está no grupo de alto risco a partir dos 40 ou 45 anos de idade. Os que fazem parte do grupo de baixo risco, a partir dos 50. “A visita não precisa ser anual, pode ser a cada dois a três anos, para o paciente que não tem alto risco. Nos casos de alto risco vale a pena um rastreamento até anual, mais frequente”, recomenda Deves.

Novotny acredita que muitos homens têm medo de ir ao urologista pelo preconceito com o toque retal. O procedimento é simples, rápido, indolor e insubstituível. Deve ser feito sempre acompanhado à dosagem do PSA e a partir daí o médico pode pedir exames complementares.

“O ideal é o homem ter o urologista de sua confiança que faça o toque retal, acompanhe o tamanho da próstata, conheça os exames do paciente. O profissional vai decidir com o paciente se precisa fazer os exames todo ano ou se é em dois, três ou quatro anos de intervalo, porque é o urologista quem vai conhecer a evolução do paciente”, conclui Novotny.

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Mais informações
Campanha do Novembro Azul no site da SBU
Página do INCA sobre o câncer da próstata
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Mayra Cajueiro Warren
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