Em defesa da verdade e a favor da ética no jornalismo

31/03/2014 18:07

Ao longo dos últimos 21 meses, a gestão liderada pelas professoras Roselane Neckel e Lúcia Helena Martins Pacheco tem desenvolvido um trabalho que conseguiu manter e/ou melhorar todos os indicadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a qual permanece entre as dez melhores do Brasil: manteve a média de captação com projetos de mais de R$ 300 milhões/ano; ampliou o número de grupos de pesquisa certificados no CNPq atualizados de 263 para 587; investiu R$ 66.310.763,57 em obras entre o final de 2013 e o começo de 2014; ampliou a quantidade e os valores das bolsas para estudantes; melhorou as condições nos campi de Araranguá, Curitibanos e Joinville; implantou o campus de Blumenau, com mais 500 vagas em áreas estratégicas para o país, como Engenharia de Materiais e Engenharia Têxtil; pela primeira vez, contratou projetos com a previsão de pagamento de prêmios pelo uso da tecnologia desenvolvida; contratou 848 professores e servidores técnico-administrativos; captou mais de R$ 10,5 milhões, o maior valor desde a criação do edital CT-Infra/FINEP voltado ao financiamento de laboratórios de pesquisa, e regulamentou a contratação de projetos com recursos do governo federal, o que vai possibilitar uma captação média de mais de R$ 30 milhões para aplicação em pesquisa, inovação e manutenção de laboratórios. Estas são apenas algumas das conquistas obtidas em apenas 21 meses de gestão.

Apesar dessas realizações relevantes e inegáveis, diante do episódio lamentável vivido em 25 de março de 2014 no campus de Florianópolis, o grupo RIC preferiu, em editorial, desferir ataques sérios à reitora da Universidade Federal de Santa Catarina. Levantou acusações sem provas, demonstrando desconhecimento do que acontece na UFSC, questionou uma reitora eleita pela maioria da comunidade universitária e nada falou sobre a desastrada operação policial que, em nome de uma investigação contra o tráfico de drogas, prendeu um único usuário que portava três cigarros de maconha. O exagero da operação foi tão evidente que especialistas ouvidos pelas próprias empresas de comunicação criticaram a sua eficácia, inclusive ao vivo nas redes de televisão locais.

O editorial do Grupo RIC tampouco fez jornalismo com seriedade e apurou os fatos, desconhecendo que, graças a um convênio firmado pelas atuais reitoras, a UFSC é responsável por um programa o qual, em parceria com o Ministério da Justiça, está formando mais de 80 mil pessoas para o combate ao uso abusivo de drogas. Nega-se a compreender que era obrigação das reitoras questionar a eficiência e a eficácia daquele tipo de operação policial em um ambiente de ensino e se contrapor a acusações gravíssimas feitas contra a comunidade universitária, tachada como “um antro de criminosos”. O Grupo RIC, incapaz de autocrítica, desconheceu que o próprio Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina e a Federação Nacional dos Jornalistas condenaram a cobertura do episódio feita por alguns veículos de comunicação, que distorceram a realidade dos fatos.

O mais grave é que o editorial do Grupo RIC também ignorou a avaliação que os próprios jornalistas da empresa têm publicado e defendido, quando conseguem, numa análise técnica, fazer a distinção entre uma investigação policial adequada e a operação de guerra totalmente incompatível com os pífios resultados obtidos, desproporcionais para uma operação que colocou em risco a vida dos envolvidos e toda a investigação policial realizada ao longo dos últimos anos. Além disso, o Grupo RIC, ao defender uma visão repressiva contra usuários de drogas, desconsiderou as recomendações de especialistas em segurança pública, dos profissionais que atuam no combate abusivo ao uso de drogas e das diversas entidades que já se manifestaram a favor da UFSC e contra a violência do ato praticado dia 25 de março, a começar pela presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina, Luciane Carminatti, que acompanhou a operação policial no local.

O Grupo RIC, uma vez mais desconhecendo as rotinas mais elementares dentro dos campi universitários, não diz que a ocupação da Reitoria por estudantes não é uma novidade nem na UFSC, nem em Santa Catarina, muito menos no Brasil. Não diz que, zelosas de suas funções, as reitoras Roselane Neckel e Lúcia Helena Martins Pacheco lideraram todo o processo de negociação que culminou com a bem-sucedida saída dos estudantes da Reitoria na última sexta-feira, conseguindo reduzir os conflitos e tensionamentos, e que, mesmo com a greve dos servidores técnico-administrativos em Educação, a UFSC não parou durante os três dias da ocupação. Se, por um lado, a empresa se sentiu no direito de perguntar “quem manda na UFSC?”, sentimo-nos na obrigação de questionar por que a RIC, ao se manifestar editorialmente, ignorou princípios básicos inerentes ao jornalismo ético, de qualidade e pautado pela defesa do estado democrático, pelo compromisso com a sociedade e pelo respeito aos dirigentes das demais instituições sociais como a Universidade. Afinal, a quem interessa um jornalismo de campanha que ignora os fatos da realidade? Trata-se de mais um exemplo de que os meios de comunicação, por serem instituições essenciais para a democracia, não podem ficar ao livre-arbítrio de interesses privados e devem ser pautados pela defesa do interesse público.