Aluna de Física recebe prêmio como destaque de iniciação científica da UFSC de 2013

18/07/2014 15:18

Deborah AssisPensar ao contrário. Foi a tática de Deborah Santos de Assis Liguori para decidir para qual curso iria prestar o vestibular. Filha de pai italiano e mãe brasileira, Deborah se mudou para o Brasil quando tinha 16 anos, mas sempre teve contato com as duas culturas. A mãe da estudante nunca deixou de falar em português com ela. “Tive a sorte que alguns filhos de duas culturas não têm: meus pais investiram nas duas e não deram prioridade somente para uma delas”, conta. Deborah foi uma das seis estudantes da UFSC que receberam o prêmio “Destaques da Iniciação Científica de 2013”.

Por não saber como funcionava o sistema de vestibular, ela explica que teve dificuldades ao enfrentar o concurso. “Tive bloqueio. Tentei três vezes”. Na primeira tentativa, escolheu o curso de Arquitetura. Foi na preparação para a prova do ano seguinte que Deborah começou a pensar melhor no curso que gostaria de fazer. “Eu gostava de muitas coisas, foi difícil. Então, comecei a pensar na matéria que eu menos tinha aprendido – a Física”. Foi o professor do cursinho que a instigou. “Ele fez esta tal de Física ficar interessante”, relembra. Deborah confessa, porém, que teve receio de fazer o curso. “Fiquei com medo, pela dificuldade dos cálculos”. A segunda tentativa acabou não dando certo. Foi na terceira que a estudante encarou seu pensamento “ao contrário”. Mesmo nunca tendo ouvido falar sobre Florianópolis, prestou a prova do vestibular para a UFSC.

Por ter passado grande parte de sua vida escolar na Itália, Deborah acha que a relação entre professor e aluno aqui é muito diferente. “Estudava em uma escola na qual, para cumprimentar o professor, a gente tinha que levantar da carteira. O contato era bem menor. E trabalhar diretamente com o professor era uma coisa que não passava pela minha cabeça”, explica.

Ela era bolsista na secretaria do Departamento de Física quando decidiu participar de pesquisas científicas. “Eu trabalhava na secretaria e lá acabei tendo contato com todos os alunos e professores. Isso abriu uma porta pra mim; todos me conheciam e conheciam meu trabalho. Um dia, uma aluna de doutorado falou que estava na hora de colocar a mão na massa”, conta. Por ser aluna do curso de licenciatura, Deborah achou que teria dificuldades no laboratório. “Acabei descobrindo que a maioria das pessoas do laboratório era formada em licenciatura”, diz. Com o tempo, foi aprendendo a usar os equipamentos e se envolvendo com as pesquisas. Ela considera a experiência no laboratório muito importante.

O professor e orientador da pesquisa de Deborah, Ivan Helmuth Bechtold, ressalta o grande interesse da aluna nos projetos realizados no laboratório. “Deborah é uma aluna muito dedicada, sempre foi muito curiosa, o que é uma virtude dela. O estudante que não tem curiosidade com o que está trabalhando não está pensando em aprender algo que sirva para o seu futuro”, afirma. A aluna já vem fazendo disciplinas do bacharelado desde o seu ingresso na UFSC.

Atualmente, está na sétima fase de licenciatura e na quinta do bacharelado. Pretende ir para o Japão, pelo qual se diz apaixonada, para acabar suas disciplinas. “Não quero continuar só na pesquisa. Quero atuar no ensino médio, pois entrei na licenciatura por isso; eu quis ser uma professora assim como foi para mim aquele professor de Física”, afirma com convicção.

Deborah e os outros cinco premiados no “Destaques da Iniciação Científica de 2013” da UFSC farão a exposição de seus trabalhos na Jornada Nacional de Iniciação Científica (JNIC), que será realizada durante a 66ª Reunião Anual da SBPC na Universidade Federal do Acre, em julho deste ano. Ela acredita que a apresentação em nível nacional faz com que a pesquisa ganhe mais visibilidade. “Estes encontros sempre são muito bons para conhecer professores da mesma área”, afirma. “A pesquisa não é só pra ser feita em um laboratório, dentro de quatro paredes; é uma coisa que envolve o mundo inteiro. Sozinho a gente não faz nada”, conclui.

 

Saiba mais sobre a pesquisa
“Caracterização de Cristais Líquidos Termotrópicos”

Deborah Santos de Assis Liguori começou, em 2012, suas pesquisas com cristais líquidos no Departamento de Física da UFSC, junto ao Laboratório de Optoeletrônica Orgânica e Sistemas Anisotrópicos (LOOSA), coordenado pelo professor Ivan H. Bechtold. Esses materiais são conhecidos pela sua aplicação em telas de cristal líquido, LCD. Neste trabalho, a jovem pesquisadora investigou as propriedades térmicas e estruturais destes compostos inéditos sintetizados pelo grupo do professor Aloir Merlo, do Instituto de Química da UFRGS, em um sistema de colaboração científica. Os cristais líquidos investigados têm forma de bastão e podem se organizar de diferentes maneiras através da variação da temperatura, resultando em transições de fase (as mesofases). O objetivo foi investigar a organização adotada por estas moléculas em diferentes temperaturas. “Quando o cristal líquido muda de fase, as moléculas se ordenam de maneira diferente, o que permite aplicações tecnológicas distintas”, explica a aluna.

As mesofases dos cristais estudados por Deborah apresentam uma temperatura muito alta, não sendo, assim, aplicáveis para uso comercial. “Acredito que dificilmente estes cristais líquidos serão usados para fazer um display, devido à alta temperatura de operação”, explica. “Mas, com certeza, os resultados obtidos contribuem para o aprendizado sobre o comportamento destes sistemas e servirão de base para pesquisas futuras e direcionamentos para a síntese e a produção de novos materiais”, completa.

Atualmente, Deborah está adicionando nanopartículas de ouro aos cristais líquidos. Espera-se que estas partículas se aglomerem entre os cristais alterando suas propriedades térmicas, ópticas e elétricas. A expectativa é que a experiência resulte no aumento da condutividade, elemento muito importante na construção de um display.