Convênio oferece oportunidades para estrangeiros cursarem graduação no Brasil

30/10/2013 13:30

Tosin Ayodeji, da Nigéria
Foto: Gabriela Dequech – AI/GR

O Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G) oferece oportunidades de formação superior a cidadãos de países em desenvolvimento com os quais o Brasil mantém acordos educacionais e culturais. Desenvolvido pelos ministérios das Relações Exteriores e da Educação, em parceria com universidades públicas e particulares, o PEC-G seleciona estrangeiros entre 18 e 23 anos, com ensino médio completo, para realizar estudos de graduação no País. Ao longo da última década, foram mais de 6 mil selecionados e só na UFSC já se formaram 254 profissionais.

No momento, a Universidade está recebendo 87 alunos, em sua maioria vindos da África ou América Latina, que cursam gratuitamente a graduação. São selecionadas, preferencialmente, pessoas inseridas em programas de desenvolvimento socioeconômico acordados entre o Brasil e seus países de origem. Além de aprender ou aperfeiçoar o português, os alunos têm o compromisso de regressar a sua nação e contribuir com a área na qual se graduaram.

Cada estudante estrangeiro vem de realidades distintas e culturas diferentes, mas o ponto em comum entre eles é a vontade de conquistar o diploma de nível superior em uma instituição de qualidade.

Derlis Dario, do Paraguai
Foto: Gabriela Dequech – AI/GR

Para o paraguaio Derlis Dário, a paixão pelo samba só fez crescer a vontade de morar e estudar no Brasil. O estudante, que está concluindo a graduação em Jornalismo na UFSC, conheceu o ritmo brasileiro aos 12 anos. Com a música, aprendeu sobre a cultura brasileira e ganhou um incentivo para aprender o português.

Ele veio morar em Florianópolis em 2010. “Não me sentia um estrangeiro, já vim pra cá com a cultura brasileira dentro de mim”, garante. Outro motivo para o paraguaio buscar o Brasil foi o valor das mensalidades nas universidades de seu país que, de acordo com ele, eram muito altas.

Apesar de ter passado por momentos difíceis enquanto participava do Programa – sua irmã faleceu de câncer de mama no final de 2011 –, Derlis diz que só tem a agradecer pela oportunidade. Agora, planeja seu TCC, que será sobre os brasileiros que moram no Paraguai.

Mário Menezes, do Timor-Leste
Foto: Gabriela Dequech – AI/GR

Os timorenses Mário Menezes e Azita Valente também foram cativados pela ideia de cursar gratuitamente a graduação. Mário estudava Engenharia de Petróleo em sua terra natal, mas teve que parar devido ao valor das mensalidades. Aqui no Brasil, o estudante escolheu estudar Arquivologia, pois, em seu país, há uma organização do Estado que arquiva documentos antigos, mas existem poucos profissionais dessa área. Azita Valente está cursando Engenharia Química e explica que o curso ainda não existe em seu país. Há apenas o curso de Química, sendo que só três pessoas têm mestrado na área. “Quando voltar, quero implementar algo de bom, que traga vantagens para meu país, minha família e minha vida”, diz Azita.

No Timor Leste, o Programa funciona de forma diferente. O Governo realiza um concurso no qual são concedidas bolsas para os cidadãos estudarem no Brasil ou em Portugal. Para receber o auxílio, os timorenses acordam que, dependendo do tempo que ficarem estudando fora do país, ficarão o dobro do tempo trabalhando em algum órgão público. Por exemplo, quem estuda quatro anos em outro país, na volta, trabalha oito anos em algum órgão governamental.

Azita Valente, do Timor Leste
Foto: Gabriela Dequech – AI/GR

Os estudantes explicam que esta foi a forma que o Governo encontrou de incentivar o aprendizado do português, língua oficial do país, mas que a maioria da população não fala. Cada estudante recebe uma bolsa de cerca de R$ 1.500,00 por mês para se manter no país estrangeiro. Além dos dois timorenses da Graduação, a UFSC está recebendo doze alunos de Pós-Graduação, pelo Programa de Estudantes-Convênio de Pós-Graduação (PEC-PG).

Tosin Ayodeji Ayodele é mais um estudante que conseguiu realizar o sonho da Graduação pelo PEC-G. O nigeriano sempre sonhou em ser médico. Se encantou com a profissão vendo o tio, que é psiquiatra, atender os pacientes no hospital de sua cidade. Aos 17 anos, Tosin conseguiu ser aprovado no teste para o curso de medicina de uma universidade na Nigéria, mas, devido a uma lei que impede menores de 18 anos de ingressarem na universidade, não pode frequentar o curso.

Depois disso, não conseguiu mais passar no vestibular de medicina em seu país. Veio morar no Brasil, onde iniciou o curso de Fisioterapia em uma universidade particular. “Mas não era isso que eu queria”, explica. Foi quando ouviu falar do PEC-G. Realizou o teste de proficiência em português e foi aprovado na seleção do Programa. Agora, Tosin cursa medicina na UFSC e acredita que o fato de conhecer uma cultura diferente trará um diferencial para sua formação. “Em minha futura profissão vou precisar saber lidar e me relacionar com pessoas de personalidades distintas”, comenta o nigeriano. “O PEC-G está me proporcionando uma oportunidade que eu não tive no meu país”, diz.

Gabriela Dequech Machado
Estagiária na Assessoria de Imprensa do Gabinete da Reitoria  / UFSC
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