Em mais uma empreitada ousada, a Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC) publica outro clássico da literatura universal: A tempestade, de William Shakespeare, traduzido pelo escritor e professor de Psicologia Rafael Raffaelli do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFSC (CFH).
O livro será lançado no dia 27, terça-feira, das 16 às 18 horas, no hall do Centro de Comunicação e Expressão (CCE), dentro da Semana de Letras. Escrita em 1623, a peça marca o apogeu da carreira do dramaturgo inglês e é considerada a última produção solo do autor de Macbeth, também traduzido pela EdUFSC por José Roberto O’Shea, do Departamento de Língua e Literatura Estrangeiras da UFSC.
Os textos de Shakespeare, segundo Rafael Raffaelli, caracterizam-se pela ambiguidade e pela abertura de sentido, oferecendo ao diretor e ao comentarista várias alternativas possíveis. “A cena do naufrágio que abre a peça recoloca a questão da falência da vontade e da autoridade humana diante das forças da natureza”, esclarece o tradutor de A tempestade.
A edição, bilíngue, (inglês e português) é enriquecida com as partituras originais, obtidas pelo tradutor, a título de cortesia, junto à Stainer & Bell, empresa londrina detentora dos direitos autorais. Na introdução do livro, Raffaelli facilita a vida do leitor oferecendo uma síntese da origem, da história, do conteúdo e da repercussão da peça ao longo dos tempos. O enredo, assinala o tradutor, não foi elaborado “segundo a ideia da unidade da ação do teatro clássico, mas conforme o emprego de analogias, nas quais os naipes de personagens emulam o tema essencial do confronto pelo poder”. Assim, A tempestade pode ser classificada como trabalho experimental. A peça reúne mais de 20 personagens.
Os acontecimentos históricos utilizados no argumento da peça não neutralizam múltiplas análises dos críticos, como destaca Raffaelli na apresentação da obra: “testamento teatral de Shakespeare, parábola moral em que o bem suplanta o mal, apologia do perdão e da racionalidade superando a vingança, alegria da iluminação espiritual ou mesmo um libelo anticolonial contestando o direito do domínio europeu sobre o Novo Mundo”, resume.
Nada em A tempestade, conclui o tradutor, é “trivial e inequívoco”. A localização geográfica da Ilha de Shakespeare é um mistério; as referências à América do Sul e à abundante Mata Atlântica brasileira não são suficientes para colocar a Ilha de Santa Catarina no páreo ou em cena. A ilha, pensa Raffaelli, encontra-se “apenas na imaginação de Shakespeare”; afinal, como diz o dramaturgo, “o pensamento é livre”. O autor de A tempestade não pode, contudo, negar, na concepção de seu texto, a influência de Michel Montaigne (1533-1592), filósofo francês caracterizado como um fideísta cético – foi um dos primeiros pensadores a contestar a visão eurocêntrica do mundo.
Comédia e tragédia, marcas do dramaturgo, são superadas em A tempestade. Aqui, conclui Raffaelli, ele questiona a própria noção de unidade dramática “introduzindo um sentimento de estranheza e irrealidade através de uma dramaturgia fragmentária”. Shakespeare antecipa-se ao chamado teatro pós-dramático.
Moacir Loth/ Jornalista da Agecom/UFSC
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